A existência de um tempo de vida finito nas células
eucariotas normais, e a capacidade das células cancerosas em superá-lo, pode
depender dos telômeros. Os telômeros compreendem sequências de nucleotídeos que
protegem as extremidades dos cromossomas da sua degeneração e da fusão com
outros cromossomas, prevenindo a instabilidade genômica.
Além destas funções, os telômeros desempenham também um papel importante,
embora indireto, no controle da proliferação das células normais e no
crescimento anormal do cancro.
Na ausência da telomerase, uma enzima que adiciona
repetições sucessivas de bases de DNA telomérico aos telômeros, em cada
duplicação celular a célula perderá entre 50 e 201 pares de bases (bp) de
DNA telomérico. Aparentemente, as células humanas deixam de se dividir quando o
comprimento final do DNA telomérico atinge aproximadamente 4-7 bp (15 a 20 nas células germinais)
prevenindo, assim, a fusão com outros cromossomas. O encurtamento dos telômeros
ocorre porque a maioria das células somáticas normais não sintetiza
telomerase.
No entanto, nas células cancerosas, a síntese de
telomerase é ativada, o que poderá contribuir para a capacidade destas células
se dividirem continuamente.
Sabe-se que à medida que as células se aproximam da
fase de senescência replicativa começam a expressar a proteína p53,
resultante de um gene supressor tumoral, que interrompe o ciclo celular nas
fases G1 e S.
No entanto também tem sido constatado um aumento da p53 nas células em que o
DNA foi lesado por ERO (espécies reativas de oxigênio ou radicais livres). Este
mecanismo evita o surgimento células com informação genética alterada, mesmo
que o comprimento dos telômeros permita a continuação da proliferação
celular. Em resumo, não só o encurtamento dos telômeros podem ditar a
morte celular. Vale lembrar que se os fatores estocásticos induzirem mutações
nesta proteína (p53), inativando-a, poderão sobrepor-se aos mecanismos
genéticos de controle do fenômeno de envelhecimento celular. Isto é, a célula
continuará se replicando mesmo que esteja em senescência.
Estes dados indicam que o papel dos telômeros no fenômeno de envelhecimento
celular poderá não ser tão decisivo como tem sido descrito.
Os telômeros poderão ter um papel preponderante no
envelhecimento tecidual onde as células mantêm a sua capacidade proliferativa
ao longo da vida do indivíduo.
A diminuição significativa do número de células
funcionais quer por morte celular ou por incapacidade de reparação dos danos,
poderá determinar a funcionalidade dos respectivos órgãos, culminando com a
morte do indivíduo. No entanto nos tecidos compostos por células
permanentemente pós-mitóticas, tais como os neurónios e os cardiomiócitos, a
“Teoria dos Telômeros” não se aplica. O fenômeno de envelhecimento
nestes tecidos deve-se, provavelmente, à acumulação de lesões celulares
sucessivas induzidas por fatores de natureza química ou mecânica, como por
exemplo, o aumento do stress oxidativo nas células nervosas.
Neste sentido, o “relógio biológico” que determina a
longevidade do indivíduo, parece não fazer sentido passa a se considerar um
indivíduo como um todo.
A “Teoria dos Telômeros” é ainda posta em causa
quando se tenta explicar as diferenças de longevidade entre as espécies animais
com base no comprimento destas estruturas. Seria de esperar que o maior
comprimento dos telômeros das células mitóticas estivesse associado a uma maior
longevidade da linha celular, o que não acontece.
Por exemplo, os telômeros dos fibroblastos humanos
têm um menor comprimento do que os fibroblastos de ratinhos. No entanto, as
células dos fibroblastos humanos dividem-se muito mais vezes antes de atingir a
senescência replicativa. Sendo assim o comprimento dos telômeros, por si só,
não se relaciona com a longevidade das diferentes espécies animais.
Contudo, constatou se a existência de uma correlação
entre a longevidade das células em cultura e a longevidade das respectivas
espécies animais.
O que sugere a existência de outros mecanismos responsáveis pelo fenômeno de
envelhecimento celular.
Imagina-se que a lesão oxidativa do DNA têm,
possivelmente, um efeito mais decisivo na longevidade das células do que o
comprimento dos telômeros.
Em conjunto, as evidências apontam para um papel
moderado dos telômeros no fenômeno de envelhecimento, que deverá ser mais
decisivo nos tecidos constituídos por células mitóticas e naqueles onde a
capacidade regenerativa é determinante, tendo, no entanto, um papel muito
modesto nos órgãos principalmente constituídos por células pós-mitóticas.
É possível que o progressivo encurtamento dos
telômeros constitua apenas um dos fenótipos do envelhecimento biológico e não
seja a causa do processo.
Disponível
em: http://teoriasdoenvelhecimento.blogspot.com.br/2012/09/teoria-do-envelhecimento-celular.html
Postado
por Karina Marques